Conheci a Rosalina no ITS-Brasil em 2023, quando atuamos no Programa de Empregabilidade Inclusiva Para Pessoas Com Deficiência e ela contou sobre sua experiência e envolvimento num projeto de inovação em moradia (cohousing), chamada Bem Viver, na região de Mogi das Cruzes. Trata-se de uma ideia já consolidada em vários países e uma tendência crescente no âmbito das políticas habitacionais. Constitui-se em grupos de pessoas que incluem amigos, conhecidos e indivíduos interessados em compartilhar experiências e também que tenham afinidades e que possam oferecer apoio mútuo em uma moradia colaborativa na busca de uma boa convivência, respeitando a privacidade de cada um. Nos anos 1960, na Dinamarca, surgiu a ideia do “cohousing” quando Jan Gudmand Hoyer, descontente com o estilo tradicional de moradia, reuniu amigos para criar um novo conceito de habitação. Esse modelo combina a privacidade de cada moradia com espaços comuns e atividades que promovem a interação entre os vizinhos. A importância do suporte emocional é destacada como um dos motivos para a adoção desse formato de convivência. Na cidade de São Paulo, temos uma iniciativa localizada no bairro do Pari, a Vila dos Idosos, um empreendimento de locação social que é um modelo de política pública, necessária para suprir a necessidade dessa população cada vez maior. Essas moradias habitacionais tendem a se multiplicar. Esse programa oferece subsídios para populações vulneráveis e de baixa renda no acesso à moradia, eles contam com assistência médica pelo Programa de Atendimento ao Idoso (PAI), além de acompanhamento de psicólogos e assistentes sociais contratados. Há um espaço comum que foi projetado para atender às necessidades desse público com salas para TV, jogos, salão de festas, cozinha comunitária e também uma horta comunitária. No entanto, é preciso ressaltar outras questões abordadas em políticas públicas, já que o envelhecimento da população brasileira está ocorrendo rapidamente e é crucial estarmos preparados para lidar com essa situação. Algumas ações necessitam de avaliação e planejamento adequado e, dentro desse contexto, elaboramos um esboço para abordar esses problemas urgentes que demandam atenção. Vivemos em um ritmo acelerado de envelhecimento, segundo projeções do IBGE: a diminuição da natalidade, baixa taxa de fecundidade e o aumento da população com 60 anos e mais impactam diretamente na necessidade de elaboração de políticas públicas tão necessárias em seus diversos âmbitos dentro de nossa sociedade. Segundo Coleman (2001), o envelhecimento populacional é uma das mais importantes transformações sociodemográficas em curso nas sociedades humanas.
O assunto do envelhecimento da população não recebe a devida atenção nos debates sobre a importância de tratar com mais cuidado essas questões, possivelmente, devido às peculiaridades culturais e históricas. Reduzir as diferenças presentes diante das desigualdades sociais visíveis, abrir caminhos para a participação dessas políticas, ter um olhar mais empático direcionado aos idosos mais vulneráveis e necessitados de atenção e garantir o cumprimento dos direitos estabelecidos no Estatuto do Idoso são fatores prioritários, além do que, a maioria desconhece seus direitos de forma adequada! No Brasil, a desigualdade social continua sendo um problema predominante, há um elevado contingente de pessoas vivendo em condições precárias de saneamento básico, com ausência de atendimento médico adequado, deficiências educacionais, carência de moradia e insegurança alimentar, que são apenas alguns dentre inúmeros fatores necessários que demandam a elaboração de políticas públicas inclusivas. Essas questões são temas de preocupação prioritária no processo de envelhecimento da população se não forem pensadas rapidamente.
O Brasil é o nono país mais desigual do mundo. O 1% mais rico recebe 32,5 vezes mais que os 50% mais pobres. A pandemia acentuou as desigualdades estruturantes, piorando as condições de vida dos mais pobres, das mulheres e
da população negra. (IBGE, 2022) Além da falta destas tão imprescindíveis políticas públicas, lidamos com a falta
de preparo de profissionais de diversas áreas para atender a essa demanda. Essa questão deve ser uma preocupação constante, pois é necessário e urgente que providências sejam tomadas, pois, não estamos preparados para atender
às exigências atuais e futuras. O crescimento da dinâmica demográfica impactará não apenas a quantidade, mas também as mudanças na distribuição etária, resultando em menos crianças e mais idosos. A camada populacional em idade produtiva também sentirá os efeitos desse desenvolvimento, tanto em termos de quantidade como de qualidade, o que provocará efeito na economia de modo geral. Mantendo esse ritmo e sem a implementação de medidas populacionais, a dinâmica demográfica nos levará ao inexorável envelhecimento com consequências que podem ser danosas ao desenvolvimento econômico e social do país. Além disso, as políticas públicas baseiam-se na cronologização para acrescentar programas específicos para cada uma dessas fases, mas, segundo Debert(2004), diante de profundas mudanças ocorridas na segunda metade do século XX, no mercado de trabalho, nos novos formatos de famílias, ela diz que é preciso haver uma descronologização para mensurar cada etapa de transição e assim definir o caráter do curso da vida como instituição social, ou seja, temos que inverter a ordem temporal e dessa forma determinar a natureza do percurso da vida enquanto construção social. Essa institucionalização abrange, praticamente, todas as dimensões, do mundo familiar, do trabalho, na organização do sistema produtivo, nas instituições educativas, no mercado de consumo e nas políticas públicas que cada vez mais tem como alvo, grupos etários específicos.
Em 2030, o Brasil terá a quinta população mais idosa do mundo, em 2050, a população de 65 anos e mais ascenderia a 38 milhões de pessoas, superando a de jovens. Em 2060, o percentual da população com 65 anos ou mais de idade
chegará a 25,5% (58,2 milhões de idosos), enquanto em 2018 essa proporção era de 9,2% (19,2 milhões). Já os jovens (0 a 14 anos) deverão representar 13,9% da população (33,6 milhões) em 2060, frente a 21,9% (44,5 milhões) em
2018. (IBGE, 2022) De acordo com as projeções da ONU, esse fenômeno mundial teve início no século XX e se estenderá até 2050. Em 2050, dois bilhões de pessoas em todo o mundo será de idosos. A população idosa brasileira passará de 7,8% para 23,6%, enquanto a jovem reduzirá de 28,6% para 17,2% e a adulta de 66,0% para 64,4%. (Wong; Carvalho, 2006). É preciso repensar as políticas públicas para que elas representem pautas próprias, levando em conta os anseios e as necessidades desse contingente populacional, compreender a realidade embasada em nossa organização social, considerando não apenas o que ela traduz, mas também a sua construção histórica e as relações de poder existentes na sociedade. (Oliveira, Salvador, Lima, 2023) Segundo Camarano & Pasinato (2004) para que as políticas voltadas para o envelhecimento populacional possam ser efetivas é necessário que apresentem uma abordagem integrada em seus diversos setores específicos: saúde, economia, mercado de trabalho, seguridade social e educação. As políticas voltadas para idosos devem fomentar a solidariedade entre as diferentes gerações, visando equilibrar as demandas dos idosos com as de outros segmentos populacionais.
Se tais medidas não forem postas em prática, a situação em que estamos vivendo no atual momento permanecerá a mesma. É fundamental unirmos esforços de forma imediata para evitar que as condições piorem, afetando a
qualidade de vida dessa crescente população.
Ana Lucia Fusco – Bacharela em Gerontologia – analufu@alumni.usp.br
Referências
Agência Senado; PNAD, 2022 (IBGE)
ANTÔNIO, M. – Envelhecimento ativo e a indústria da perfeição. Saúde e Sociedade,
São Paulo, v. 29, n.1, 2020.
DEBERT, G. G. A reinvenção da velhice: socialização e processos de reprivatização do
envelhecimento. São Paulo: Edusp, 2004.
CAMARANO, Ana Amélia; PASINATO, Maria Tereza. O envelhecimento populacional na agenda
das políticas públicas. IPEA, 2004.
COLEMAN, D. A. Transações Filosóficas da Royal Society of Londres B: Ciências Biológicas,2001.
https://sermodular.com.br/2022/09/09/comunidades-intencionais-formadas-porpessoas-maduras-podem-ser-solucoes-viaveis-na-velhice
Oliveira, T.R – Revista brasileira de geografia econômica – Envelhecimento populacional
e políticas públicas: desafios para o Brasil no século XXI – IV, Número 8, 2016
Oliveira, W.I.F; Salvador, P.T.C.; Lima, K.C. – Aspectos determinantes para construção
social da pessoa idosa a partir das políticas públicas no Brasil: Saúde Soc. São Paulo,
v.32, 2023
ROUGEMONT, F. Medicina anti-aging no Brasil: controvérsias e a noção de pessoa no
processo de envelhecimento. Revista de Antropologia, São Paulo, 2019
Wong; Carvalho, R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 23, jan./jun. 2006
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/22827-censo-demografico-2022.html