O ano inicia com a realidade batendo à porta. A sensação incômoda de ter-se deixado levar pela fantasia da loteria, a possibilidade de a vida ser magicamente transformada de um momento para o outro foi embora. E a vida continua…o aperto do metrô, o gestor e suas expectativas, os colegas de trabalho, as desconexões e conexões do cotidiano e talvez a torcida agora, seja para que as futuras férias cheguem logo para alcançar o descanso: Tranquilizar-se, repor o sono, ter liberdade, encontrar o equilíbrio de uma vida estressante e acelerada.
Nada há de errado nisto, desde que o dia a dia não seja tão insignificante, cheio de frustrações, a ponto de as férias serem transformadas no fator mais significante de nossa vida. Precisamos ter mais que isto, pois passar a vida esperando que o ano acabe rápido para que possamos novamente gozar nossas férias, inevitavelmente é querer também que nossa vida também acabe logo.
Para muitos sair de férias representa estar longe de tudo que incomoda, ir para bem longe da infelicidade de dia a dia; além do constante desejo das férias inacabáveis. Se a rotina diária é sinônimo de coisas negativas das quais contamos as horas para que terminem se faz necessário rever urgentemente nossas vidas. Por outro lado, a esperança de estar continuamente feliz é no mínimo insana e longe da realidade, principalmente por que o que dá significado a vida é justamente o equilíbrio entre as tristezas e as alegrias que acumulamos no decorrer de nossa existência, portanto os problemas fazem parte da vida e precisamos aprender a lidar com eles e não afastá-los de nós.
Enfrentar situações difíceis é um exercício que a vida comumente nos proporciona; desde que nascemos estamos em constante contato com adversidades que nos fazem desenvolver capacidades para superar nossos limites e nos desenvolver como seres humanos que somos, ir além da sobrevivência e procriação. Porém muitas vezes nos perdemos neste processo de transformação, considerando que transformar-se necessita de muita determinação, nos tira de um lugar onde estamos acomodados e seguros, empurrando-nos ao desconhecido.
Nesta busca somos impulsionados a uma luta interna, invisível e se não houver muita obstinação, seremos por nós mesmos derrotados: Talvez cause estranheza dizer que nosso pior inimigo sejamos nós mesmos, uma força interna que resiste diante da concretização de nossos esforços para realização de nossos sonhos, em prol da segurança do que já é conhecido. Sem desconsiderar os obstáculos externos, que também são fortes opositores a muito de nossos sucessos, a falta de determinação que muitas vezes reside dentro de nós, é a maior dificuldade para chegar onde queremos ir. Steven Pressfield, em seu livro, “A Guerra da Arte”, tece considerações importantes sobre a luta interna que ele próprio trava todos os dias, identificando como sua principal inimiga a Resistência, aquela que vem todos os dias ao seu encalço, como um cão desejoso de seu dono, para fazê-lo desistir de seus afazeres e aconchegar-se em afagos.
O autor descreve sobre sua rotina de trabalho, onde a prioridade precisa ser respeitada, o planejamento precisa ser feito para que aquilo que se propõe ao mundo possa ser realizado, por mais tentador que seja desviar-se do caminho, deixando-se enganar pelas artimanhas da mente: “amanhã eu faço”, “eu mereço um descanso”, “está frio ou chovendo”, “quando der eu faço”, “será que eu nasci para isto?”, “é melhor não inventar, estou seguro do jeito que estou”. Entre outras inúmeras tentativas que criamos para nos desviar de nossos sonhos.
Na maioria das vezes a escolha é nossa; várias possibilidades nos são apresentadas para tirar-nos do caminho. Podemos ser seduzidos pela ideia de ocupar nossas mentes com coisas irrelevantes que nos distanciam cada vez mais de nossos propósitos ou definir o que queremos e lutar por nossos objetivos. Esta decisão está longe de ser fácil, somos tentados diariamente e facilmente nos perdemos em devaneios. A nossa era nos proporciona atrativos e passatempos quase que infinitos e muitos se deixam encantar por eles.
Nada mais tentador do que passar horas assistindo séries intermináveis, passar a noite se divertindo e interagindo com “games incríveis”, mas vale garantir que estes atrativos não sejam subterfúgios para nos manter inertes frente a nossas buscas pessoais e profissionais. Temos potencial para fazer muito mais do que acreditamos, os sonhos costumam estar sempre presentes e nos desviamos deles com costumeiras desculpas.
Será que optaremos por sermos velhos lamentadores de nossas vidas? Por quanto tempo iremos nos enganar? A vida não é questão de sorte e sim de luta pelas coisas que se acredita e que desejamos realizar; a persistência e a disciplina são grandes aliadas na luta contra a resistência. Pode até ser que não consigamos nossos objetivos, mas a busca em prol do que se quer, por si só já nos torna diferentes de ser o que o outro quer que sejamos!
Telma Mendes
Telma muito interessante essas reflexões, creio que é assim que colocamos em questionamento até mesmo nossos próprios pensamentos e caminhando para o novo.
Obrigada pelo comentário Adriana, somos muito complexos, precisamos constantemente nos questionar para que possamos nos desenvolver. bjs.
Amei o testo, muita verdade que as vezes não queremos aceitar, nós somos o capitão de nosso navio.
Muito obrigada pelo seu comentário no site, as vezes é difícil aceitar e jogamos a culpa em um monte de coisas mas não reconhecemos que somos nós os responsáveis de muitas coisas que acontecem conosco. bjs.